ÚLTIMO ADEUS AO CORPO DO VENTRÍLOQUO OSCARINO VARJÃO, CRIADOR DO BONECO PETELECO
Ao lado do boneco Peteleco, o corpo do ventríloquo Oscarino Farias Varjão, de 81 anos, é velado por familiares, amigos e admiradores, nesta segunda-feira (16), em Manaus. Oscarino sofreu parada cardíaca e morreu na noite de domingo (15). O artista é o criador do boneco Peteleco, que é um dos símbolos culturais do Amazonas.
O velório ocorre no salão nobre do Centro Cultural Palácio Rio Negro, na Avenida 7 de Setembro, 1546, no Centro de Manaus. O sepultamento está previsto para ocorrer às 16h, no Cemitério São João Batista, na Zona Sul de Manaus.
Segundo a família, Oscarino foi diagnosticado com uma úlcera no estômago e pedra da vesícula. Ele foi internado no Hospital Pronto-Socorro (28) de Agosto, onde sofreu parada cardíaca e morreu às 21h de domingo.
“Há mais de três anos estávamos fazendo exames e tinha suspeita que ele estava com tumor na vesícula. Em junho, o médico disse que era um cisto e que não se preocupasse. De três meses para cá ele começou piorar e já não estava conseguindo se alimentar direito. Foi emagrecendo e perdendo as forças”, contou o filho mais novo, Rafael Rodrigo, de 31 anos.
Os problemas de saúde fizeram com que o artista deixasse os palcos há nove meses. Até início do ano passado Oscarino era mestre de cerimônia do Teatro Amazonas. Oscarino deixa 12 filhos, 70 netos e 20 bisnetos.
“O papai fora dos palcos era um homem muito dedicado para a família. Ela sempre foi em primeiro lugar, tudo que ele ganhava nos shows e trabalhos era para família. Ele sempre demonstrou o valor da honestidade e respeito ao próximo”, disse o filho.
PETELECO
O boneco Peteleco é considerado Patrimônio Cultural Imaterial do Amazonas desde 2016. Suas histórias iniciaram na década de 1950, quando Oscarino tinha 20 anos e fazia shows nas ruas da capital como forma de superar dificuldades financeiras.
Além do reconhecimento como patrimônio cultural, as apresentações renderam a Oscarino uma participação no Programa do Jô, em novembro de 2000. Uma das principais angústias de Oscarino era que o boneco Peteleco fosse abandonado após sua morte. A família do artista garante que manterá viva a criação de Oscarino.
“O medo dele era que o boneco fosse abandonado, deixado em um canto. Nós da família jamais vamos deixar isso acontecer. Todos pensavam que eu seguiria a carreira dele por ser caçula, mas meu pai não queria. Ele pediu que eu cuidasse do boneco da melhor forma possível. A Secretaria de Cultura [SEC] entrou em contato e pediu para que o boneco seja exposto no Teatro Amazonas junto com a placa que ele foi homenageado no ano passado. Vou conversar com meus irmãos e depois decidir porque o boneco muito querido pela família”, explicou o filho Rafael Rodrigo.
DOCUMENTÁRIO
A obra Oscarino marcaram a vida de milhares de amazonenses. Levando alegria, o artista ao lado do boneco transformou as ruas de Manaus em palcos. O diálogo entre criador e boneco impressionou Anderson Mendes, que viu pela primeira vez apresentação Oscarino e Peteleco quando tinha quatro anos. De uma lembrança da infância e algumas décadas depois, Anderson Mendes resolveu imortalizar o trabalho do ídolo em um documentário.
“Eu tinha uns quatro anos quando vi apresentação do Oscarino no Centro. Eu era um menino curioso, vi uma aglomeração perto do Mercadão e abri caminho entre as pessoas. Vi o Oscarino com o Peteleco. Desde que enveredei pelo audiovisual tinha vontade de fazer um documentário sobre o Oscarino”, revelou o diretor do documentário.
O documentário Oscarino & Peteleco é um convite ao mundo para conhecer a relação ao longo de 60 anos de carreira dessa dupla de artistas amazonenses que vivem uma simbiose da arte, memórias do passado e as esperanças e incertezas com relação ao futuro, onde um não sobrevive.
“Esse documentário tem cerca de dez anos de pré-produção. Conseguimos captar e fazer a produção em duas semanas. A ideia era lançar documentário do aniversário de Oscarino. Acompanhamos esse lado que pouca gente conhece dele, a preocupação dele com o futuro. O documentário trata das memórias, dos 60 de dupla dele com o Peteleco desde concepção, o nascimento do boneco e o futuro. Tivemos que adaptar e adiar a captação pela questão da saúde de Oscarino”, explicou o documentarista.
Um dos episódios retratados no documentário foi viagem de Oscarino e Peteleco de Manaus até o Rio Grande do Sul nos anos de 1960. O artista percorreu país pegando carona e se apresentando ao longo do caminho.
“Tem várias histórias dele se apresentando em praças. Em uma das apresentações ele batia no Peteleco e uma senhora ficou com pena. Ela foi pedir para que ele não batesse mais no Peteleco porque ele poderia ficar doente. O público acreditava porque ele conseguia dar vida ao Peteleco”, destacou Anderson Mendes.
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