DIA DO SEXO: POR QUE ESTAMOS TRANSANDO CADA VEZ MENOS?
A revolução sexual provocou mudanças profundas nas relações sociais ao longo do século XX no ocidente. Desde o advento da pílula anticoncepcional na década de 60, passando pelo movimento feminista, o sexo foi desvinculado da reprodução e a mulher passou a expressar sua sexualidade com protagonismo. Fazem parte desse processo de liberação sexual, os movimentos LGBT, que também impulsionaram a diversidade de expressão da sexualidade e o surgimento de novos modelos de relação. A expectativa que se criou em torno das futuras gerações era de uma expressão sexual livre e plena.
Paradoxalmente, estamos diante aqui de um novo fenômeno: pesquisas recentes, realizadas nos Estados Unidos e Reino Unido, mostram que há uma nova geração de jovens menos interessada em fazer sexo.
Os resultados da pesquisa conduzida pelo NORC (National Opinion Research Center), da Universidade de Chicago, sugerem que homens jovens estão fazendo menos sexo que antes. No estudo, 23% dos participantes declararam não ter feito sexo no últimos 12 meses - quase o dobro do número registrado em 2008. A proporção de homens entre 18 e 30 anos que disseram não ter feito sexo no último ano triplicou em 10 anos para 28% - muito acima do aumento de 8% entre as mulheres da mesma faixa etária.
Outros estudos realizados no Reino Unido, Austrália, Finlândia e Japão apontam que a diminuição da atividade sexual é uma tendência mundial com diferenças por faixa etária. Na Grã-Bretanha, o sexo diminuiu particularmente entre casais que moram juntos. Os dados são de mais de 34.000 pessoas que participaram de três etapas de um grande estudo chamado NATSAL (National Surveys of Sexual Attitudes and Lifestyles). Houve uma queda na atividade sexual entre 2001 e 2012 em todos os grupos, com o declínio mais acentuado entre maiores de 25 anos e aqueles que são casados ou moram juntos.
Mas por que exatamente os millennials e as novas gerações estariam menos interessados em sexo do que a geração X e os baby boomers estiveram? Afinal, supostamente vivemos um período de liberação sexual, no qual as mídias sociais e aplicativos de relacionamento poderiam ser facilitadores. Se a frequência do contato sexual servir como um termômetro para as conexões humanas em geral, o seu declínio pode sinalizar alterações significativas na forma como nos relacionamos na contemporaneidade.
Nos últimos 50 anos, os jovens passaram a formar parcerias de longo prazo mais tardiamente, em geral, a partir dos 30 anos. Além disso, permanecem dependentes financeiramente de suas famílias por maior tempo e demoram mais a sair da casa dos pais, o que pode restringir ou adiar o repertório de experiências sexuais. O uso excessivo das mídias sociais e o consumo facilitado de pornografia proporcionado pela internet também aparecem nesse cenário, onde a interação no mundo real tornou-se mais escassa.
Além disso, expectativas elevadas de perfomance em diversos campos da vida, incluindo o trabalho e a família, podem deslocar a libido para assuntos menos eróticos. As exigências utilitaristas da sociedade contemporânea nos fazem crer que talvez o lugar do sexo seja de perda de tempo e não-produtividade. Muitos poderão discordar, mas na atualidade, embora supostamente marcados pelo hedonismo, talvez estejamos mais preocupados com a sobrevivência do que com o prazer. Esse cenário desértico pode ser infértil para o florescimento do encontro, da experiência e da satisfação corporal.
Por outro lado, as pesquisas podem revelar também aspectos positivos. Muitas pessoas acreditam praticar menos sexo do que a maioria, assim, os resultados dos estudos podem ser reconfortantes ao sinalizar que talvez elas não estejam fora da média. Além disso, a qualidade do sexo pode importar mais do que a quantidade e uma possível razão para a diminuição da atividade sexual revelada nas pesquisas é que talvez as pessoas não sintam mais a necessidade de exagerar em seus relatos a frequência com que praticam sexo.
As transformações drásticas dos papéis feminino e masculino na sociedade, nas últimas décadas, certamente estão entre os principais motivadores das mudanças apontadas nos estudos. A apropriação da mulher sobre o seu próprio desejo potencializou o debate em torno do que pode conferir qualidade a uma relação sexual: consentimento, conexão e respeito, que passaram, mais do que nunca, a ser padrões pelos quais se mede os melhores encontros íntimos. E se de fato é mais fácil admitir que o sexo nem sempre é frequente, fácil ou prazeroso, talvez, simplesmente tenhamos começado a ser mais honestos sobre o assunto.
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