CONHEÇA O CASO DELMO: O CRIME QUE CHOCOU MANAUS NOS ANOS DE 1954
Quem era Delmo Campelo Pereira ? Era estudante filho do proprietário da serraria. O caso Delmo aconteceu em 4 de abril de 1953 e foi manchete na revista “O Cruzeiro” com a seguinte matéria : 27 HOMENS NOS BANCOS DOS RÉUS. Com texto de Weselys Braga e fotos de Óscar Ramos e Flávio Damm.
Foi o maior julgamento realizado em Manaus, no qual 54 homens atraíram a vítima para a morte, mas somente 27 participaram do bárbaro acontecimento (o maior processo criminal do Brasil). Esses 27 homens julgados eram como uma única pessoa: estavam englobados num mesmo drama de sangue, ódio e vingança. Tudo começou na noite do dia 31 de janeiro de 1952, em Manaus.
A maior parte da população dormia, dois estavam acordados, entregues aos seus afazeres noturnos: José Firmino e José Honório. O primeiro era vigia da serraria Pereira e o segundo taxista . Era o estudante Delmo Campelo Pereira, filho do proprietário da serraria. Saíra de casa com o intuito de conseguir dinheiro, a fim de satisfazer o pagamento das mensalidades atrasadas de um clube onde pretendia brincar durante o carnaval. Mas em que lugar arranjar esse dinheiro e como?
Delmo fazia a si próprio essa pergunta e, ante a impossibilidade de encontrar para ela uma resposta imediata, teve a ideia de assaltar a serraria de seu pai, à qual fora recolhida, naquele dia, uma vultosa importância. Em frente a um botequim, Delmo apanhou o carro de chapa 279, um Hudson verde, que era justamente o que o chofer José Honório dirigia. Entrou e deu o endereço da Serraria Pereira. Ali chegando, Delmo mandou o taxista esperar e, dando uma volta pelo barranco, para não despertar suspeitas, foi ao encontro de José Firmino, a quem pediu para entrar na serraria, sob a alegação de que no interior da mesma havia um começo de incêndio.
Na verdade, Delmo estava convencido de que o taxista percebera tudo. E o medo ditava-lhe a única solução: eliminar a testemunha de seu covarde ato. Ao chegar nas vizinhanças do cabaré, pediu ao chofer para passar pela estrada de Campos Sales, alegando que nas proximidades havia a chácara de um amigo com quem marcara um encontro. O carro prosseguiu viagem e, a três quilômetros do cabaré, Delmo mandou José Honório parar o carro, sob o pretexto de que precisava satisfazer a uma necessidade. O chofer atendeu, e Delmo, saltando, dirigiu-se a uma das margens da estrada e se pôs de cócoras. Na serraria ele não conseguira obter dinheiro – mas encontrara um revólver calibre 38. Colocando-o por baixo da roupa, em posição de alvejar, chamou em seguida o chofer, pedindo-lhe um pedaço de papel.
O chofer atendeu-o e, ao voltar para o carro, o estudante desferiu-lhe dois tiros pelas costas. Embora mortalmente ferido, José Honório conseguiu atingir o automóvel – mas logo Delmo, correndo para ele, deu-lhe mais dois tiros através de uma das portas traseiras do carro, matando-o. Carregou em seguida o corpo do chofer, atirando-o contra uma cerca de arame farpado, à margem da estrada. Pela manhã, a cidade acordou abalada com a notícia dos dois crimes. Particularmente a classe de choferes, em número aproximado de dois mil homens, ficou chocada com o assassínio de José Honório, dando mesmo mostras de uma revolta generalizada. Enquanto isso, Delmo Pereira procurou o pai, confessando-lhe a autoria dos crimes.
Para surpresa sua, porém, o vigia não morrera. Tendo procurado a polícia, revelara o nome do agressor, acrescentando que havia mais dois cúmplices e outro caminho não restou a Delmo senão entregar-se às autoridades. No quinto dia depois da morte do chofer José Honório, Delmo seria reconduzido do Serviço de Socorros de Urgência (onde recebia a aplicação do “Soro da Verdade”) para a polícia, de acordo com instruções do Dr. Rocha Barros. Era ao cair da noite.
Pouco antes de se fazer a transferência do preso, o padre João Batista Rottine, a pedido do próprio Delmo, o ouvira em confissão. Finalmente, a ambulância partiu, guarnecida apenas por um investigador que, por sinal, estava desarmado. Em frente aos Cinemas Guarani e Polytheama, nas proximidades da Polícia Militar e não muito distante da Polícia Civil, a ambulância, que já vinha em marcha lenta, parou de repente, sendo então assaltada por um grupo de taxistas exaltados. Arrancado o preso do interior do carro, foi ele conduzido, num dos automóveis mobilizados pelos choferes, para o local denominado Baixio dos Franceses, distante vários quilômetros da cidade, à margem da estrada de São Raimundo.
Fonte: Manaus Antigamente
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