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CONSUMIDOR PAGA CADA VEZ MAIS CARO POR UM CAFEZINHO


Um dos hábitos mais estimados pelos mineiros está cada vez mais amargo – e não por falta de açúcar. O cafezinho sente diretamente os efeitos da inflação e chega à mesa dos lares em valores bem mais acentuados.

De acordo com a pesquisa do Índice Nacional de Preços do Consumidor Amplo (IPCA), do IBGE, o produto teve uma variação acumulada no ano de 7,63% até março, atingindo 43,12% nos últimos 12 meses no estado. O café também mereceu destaque negativo no custo da cesta básica em Belo Horizonte, estimado pela Fundação Ipead/UFMG, com variação de 12,25% somente em 2022.

Entre os motivos apontados para a alta expressiva estão a valorização do dólar, o aumento dos custos dos insumos, o volume da safra e o clima. Devido a seca e as geadas, o café ficou mais caro em um ano de colheita que, naturalmente, já seria mais baixa, pois, em ano ímpar, as quantidades produzidas já seriam baixas.

A alta produção em Minas em 2021 não teve influência no preço do grão. De acordo com dados da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa), foram colhidos 21,45 milhões de sacas no ano passado, o equivalente a 46% da safra em todo o país, o que manteve o estado com o título de maior produtor nacional do café. O produto é cultivado em 451 municípios, numa área de 1,3 milhão de hectares. As informações são do Estado de Minas.

“A elevação do café ocorreu muito em função do aumento do custo de produção, pois os fertilizantes tiveram aumento de preço. O aumento do dólar também implicou nessa elevação da produção, já que muitos insumos são importados. O período de seca acabou sendo fator determinante”, explica o coordenador da pesquisa do IPCA em Minas, Venâncio Otávio de Araújo da Mata.

E os consumidores? Diante da expansão dos preços, consumidores tentam se virar para manter o hábito, seja substituindo o produto por uma marca mais barata ou mesmo consumindo em menor quantidade. É o caso do engenheiro agrônomo Leandro Pires Ribeiro, de 41 anos, que se contentou em reduzir o número de xícaras por dia. “Tenho tomado menos café, tentando manter o padrão e diminuindo a quantidade. O café que eu compro é especial. Comprava 250g por R$ 22. Agora está R$ 28 o mesmo pacote. Um aumento muito alto. Infelizmente, o produto segue padrões internacionais”.

O aposentado Décio Mitre, de 84 anos, lamenta que o Brasil sofra com os efeitos globais do coronavírus e da situação geopolítica envolvendo Ucrânia e Rússia. “Infelizmente, o custo de vida subiu muito no Brasil e temos de nos adequar à nova realidade. As circunstâncias foram prejudiciais, como o coronavírus e a pandemia e, em seguida, a guerra indesejável para todos. Temos de trabalhar mais para evitar novos prejuízos. As pessoas menos favorecidas são as mais prejudicadas. Ninguém consegue suportar esses aumentos na inflação”.

Em BH, o preço médio do pacote de café de 500g subiu incríveis 86,8%, custando R$ 15,49. O café moído teve um acréscimo de 50% e é encontrado a R$ 25 (200g) em mercados na área central da capital. Já o tradicional cafezinho, que no fim do ano passado era vendido a R$ 1,50, agora passa a ter um preço a partir de R$ 2,50 nas padarias e lanchonetes, uma valorização de 66%. O cappuccino e até mesmo o filtro de papel sofreram com os efeitos do aumento dos preços. O primeiro foi reajustado em 11,7% na média nos supermercados, enquanto o segundo aumentou 37,5%.

RELAÇÃO COM O CLIENTE

Proprietário do tradicional Café Nice, na Praça Sete, o empresário Renato Caldeira optou por manter o preço da xícara de café mesmo com a inflação. “O café já teve reajuste na metade do ano passado. Em junho, houve aumento em torno de 10%. Logo, segurei um pouco o preço e não repassei de imediato o custo. Já em julho, eu repassei 10%. Em três dias, tivemos dois aumentos seguidos. Com a cidade vazia e ainda sem movimento, optei por segurar o aumento por algum tempo. Está assim até hoje”

Apesar do alto preço dos fertilizantes, ele decidiu não trocar de fornecedor. “Eu trabalho com a mesma pessoa há muitos anos. Meu café é conhecido pela qualidade, pois tenho clientes que consomem aqui há 30 ou 40 anos. Eu perco um pouco na margem de lucro, mas não perco na qualidade”, diz.

A boa relação com os clientes também ajudou a não cair as vendas no mercado ABC do Trabalhador, no Centro de BH. Para o gerente Joel Holz Kister, mesmo com o cenário negativo, alguns consumidores optaram por trocar o pacote pelo produto moído na hora. “O consumidor é muito fiel, o que ajudou as vendas a não diminuírem. A quantidade de sacos comprados não diminuiu. Optamos por baixar nossa margem de lucro para não afetar o volume de vendas. Mas o nosso preço não acompanha os últimos reajustes do produto”.

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