A IMPORTÂNCIA QUE NINGUÉM DISCUTE — ATÉ FALAR EM DINHEIRO
Entre o discurso de valorização e a realidade do contracheque
Por Jozadaque Santos
Se existe um personagem que convive diariamente com a contradição na escola, esse personagem é o servidor administrativo. Todo mundo sabe que ele é essencial — mas só até o assunto envolver abono. Aí, de repente, a memória coletiva dá tilt. O mesmo profissional que resolve matrícula, lança nota, passa documento, organiza fluxo, decodifica burocracia, salva horário de prova e evita o caos administrativo… vira, por milagre, alguém “menos importante” no universo da educação.
E basta algum anúncio de pagamento para que a lógica desande: aquilo que sempre foi proporcional às horas trabalhadas vira alvo de debates acalorados, como se o óbvio tivesse que abrir inquérito. Surgem argumentos sobre titularidade, sobre quem estudou mais, sobre quem merece o quê — tudo ótimo, tudo válido — mas curiosamente só lembrados quando o administrativo aparece na conta. Porque até então, ninguém duvida da importância deles. Só quando o dinheiro entra no assunto é que algumas certezas começam a cambalear.
É quase poético — se não fosse tão previsível.
O fato é que a engrenagem escolar não roda sozinha. E não há sala de aula que floresça sem que o administrativo faça sua parte, muitas vezes invisível, mas sempre indispensável. A escola sabe disso, a rotina mostra isso, o cotidiano comprova isso. Só o debate sobre abono, às vezes, finge não saber.
E é justamente por isso que tanta discussão soa desnecessária.
Porque, no fundo, não estamos discutindo cargos, mas a dignidade de quem sustenta a educação todos os dias — e isso se chama valorização.
Manaus/AM, 12 de dezembro de 2025

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